segunda-feira, setembro 04, 2006

O vazio é insuportável

Por que eu sempre confundo a Márcia Tiburi com a Marilena Chaui?

Ontem assistindo ao Café Filosófico lá estava ela, sempre poderosa Márcia Tiburi...enquanto falava elegantemente fiquei imaginando o tempo todo por que o Paulo Ghiraldelli implica tanto com ela. Mas depois me toquei que ele implica é com a Marilena Chaui!!!

Bem, a Márcia se garante...fala muito bem, de forma muito clara, organizada e objetiva. Pensei que ela é o tipo da mulher difícil de ser conquistada por um homem por causa da inteligência e do sentimento feminista que ela demonstra ter.

O tema era: O Mito do Sexo.
Peguei o bonde andando, no momento em que ela conceituava mito e afirmava que a filosofia era uma negação do mito, já que para a filosofia o mito é a ausência de lógica, uma “narrativa explicativa de alguma coisa” que não se sabe, que foge totalmente da racionalidade. Depois que ela descreveu o mito atribuindo-lhe caráter menos importante, a psicanalista que a acompanhava na palestra deu logo um pulo e pediu a palavra para defender a importância do mito aos olhos da psicologia. Disse que o MITO tem um valor importante porque funciona como uma expressão da subjetividade do indivíduo ou dos grupos sociais.

Márcia afirma que sexo é mito, mas eu não entendi bem que dimensão do sexo estava sendo tratada... enfim prosseguiu falando sobre o sexo feminino e como este sempre teve seus direitos de expressão usurpados e sofreu severas repressões ao longo da história.E para justificar isso existiam as mais bizarras explicações, como a dos pré-socráticos (eu acho) que consideravam que o útero da mulher era um ser que a dominava e que quando não cumpria sua missão, ou seja, a fecundação, frustrava-se, castigando a mulher através de implicações nos seus demais órgãos. Assim diziam que por isso a mulher não tinha a capacidade de exercer atividades mentais, em outras palavras o pensamento. Daí só os homens poderiam viver da retórica, da contemplação e da vida pública da polis. Às mulheres caberiam os serviços domésticos e, claro, a função reprodutiva.

Afff!!!

Também falou de Schopenhauer e Kant e como eles compartilhavam desse pensamento machista. Schopenhauer, coitado, nunca obteve êxito com mulher nenhuma, sua intimidade era apenas com o papel e mesmo com o reconhecimento de ser conhecedor da natureza humana, foi sempre só, mesmo que por opção. Mas qual é a opção de alguém que não é querido sequer pela mãe pelo seu jeito rude e individualista de ser?

Segundo Márcia, Kant em sua busca pelo ideal de humanidade afirmou que as mulheres são o “belo sexo”, mas que não possuem capacidades intelectuais, a elas cabe o exercício do belo. Nesse contexto, a filósofa disse que o feminismo é uma defesa de direitos humanos e não restritamente femininos.

“A aparência é reducional à essência”, a partir dessa frase de Márcia, a psicóloga falou algo super interessante sobre a aparência e os estereótipos. Ela disse que nas clínicas, freqüentemente as pessoas reclamam por que não obtêm o reconhecimento individual e sim um reconhecimento padronizado, porque de alguma forma essas pessoas são identificadas dentro de um padrão, “coisificando” o ser individual e reduzindo suas capacidades.

Márcia falou que o grande diferencial de Freud, embora fortemente criticado pelo falocentrismo, foi a revolução que ele fez na comunicação, pois em suas experiências que deram origem à psicanálise, Freud fazia algo incomum para a época, ele simplesmente ouvia as mulheres e identificava no discurso delas uma forma de saber. Eram as histéricas, que falavam com o corpo, já que não tinham voz social. As mulheres que sofriam de histeria e que apresentavam reações fisiológicas como contorções de seus corpos e comportamentos agressivos, estavam nada menos que tentando expressar-se numa sociedade que tapava os ouvidos para o que tinham a dizer.

A crítica a Freud ainda é forte no sentido que ele masculinizou a teoria psicanalista e de certa forma restringiu suas explicações no sexo. A psicóloga tentou esclarecer que a sexualidade de Freud tem um sentido mais amplo. Márcia disse que o falo é o nosso vazio e que o vazio é insuportável, daí a necessidade do mito sexo, para tapar esse buraco.O sexo como satisfação imediata dos impulsos e também como forma de dar sentido e de nos descobrir.

No final a Márcia falou sobre a desconstrução e desmoralização pelas quais o sexo está passando ultimamente,no sentido de não ser mais algo pérfido e também pela pluralidade de identidades sexuais que existem hoje. Homem e Mulher são conceitos cada vez mais esquecidos e a tendência é que não exista a necessidade de se definir como tal, apenas ser.

Mudei de canal para ver o Aprendiz e acabei esquecendo de voltar pro canal 5.

Essa frase da Márcia dizendo que “o vazio é insuportável” me tocou, por que meu dia de domingo foi assim. Dormi o máximo que pude mas ainda assim senti esse tal vazio. A dor de cabeça foi inevitável, mas acho que a explicação está no conflito que minha irmã provavelmente está vivendo e eu não consegui assimilar ainda e me irritei profundamente. Engraçado, não estou conseguindo sequer falar com ela. Sinto uma grande raiva e ao mesmo tempo vontade de me aproximar. Não sei quando isso vai passar, mas está muito incômodo. Acho que ela vai precisar errar e sofrer um pouco para aprender certas coisas.

Ah, quero nem mais falar nisso que já me dá uma tristeza...coisas de família!

Depois apareço.

10 comentários:

Elisa65 disse...

Também vi um pedaço do Café Filosófico no domingo, mas eu peguei do meio também. E além disso, bem , teve outros programas mais fáceis de entender. Qdo começo a me enrolar muito, desisto... A única coisa que deu pra pensar foi 'ainda bem que eu não nasci na nos tempos antigos, tipo império romano'. Seria pior que se estressar todo semestre com a UFC. Depois eu fui ver O Aprendiz tb :)

Não sei pelo que sua irmã está passando, mas parece uma boa idéia deixar ela errar um pouco pra aprender.

Não sei se isso aconteceu com vc. No passado, me deram muitos conselhos bons, mas só aprendi depois que fui lá e quebrei a cara por mim mesma...

:**

Gladson disse...

Ultimamente tenho sentido esse vazio todos os dias!!! Procuro algo que me faça esquecer... mas esquecer do quê? Na maioria das vezes não percebo o motivo porque me sinto dessa maneira... Essa é uma situação muito incômoda. Se você tiver alguma "técnica" pra se sentir melhor me avisa viu!
Beijos

Elisa65 disse...

Brigada por dizer que eu escrevo coisas bonitas. :)

Ah! Os créditos pelos comentários de volta no meu blog são do Gladson. Ele me emprestou o código dele e eu passei bem meia hora catando o pedaço dos comentários!

Alguma novidade lá da UFC?

:*****

Patrícia Félix disse...

É Elisa, também já vivi momento assim, em que as pessoas fizeram previsão pra mim, mas nada como experimentar...só desse jeito a gente aprende mesmo e mais importante ainda, às vezes aprende mais lições do que outra pessoa aprendeu com a experiência. Cada um deve aprender suas próprias lições, né?!

No caso da minha irmã eu tenho consciência disso, mas sei lá...acho que é um sentimento meio materno que eu tenho por ela. Tanto sei que não é legal ficar ditando as regras que nem falei nada ainda, o que me incomoda é exatamente a sensação de querer impedir esses acontecimentos e me frustro por saber que isso não é possível.
O que ocorre não é nada demais, são as escolhas que ela está fazendo (profissionais, amorosas...) que estão me incomodando.
Mas que coisa né?! Todo mundo passa por isso, porque então eu quero tirar esse direito dela fazer as escolhas que quer?
Isso é também uma lição para mim!

Patrícia Félix disse...

Ah, Gladson...difícil preencher certos vazios...infelizmente não desenvolvi nenhuma técnica, na verdade eu tenho muita dificuldade de me livrar de coisas do passado que deixaram vazios...sou muito saudosista.

Às vezes preocupar-se tanto em esquecer nos faz lembrar mais. Tenha paciência consigo mesmo, afinal você não precisa ter respostas para tudo!

Às vezes me sinto melhor quando me entrego aos pensamentos mas em outros momentos eles me fazem sofrer. E nessas horas penso em mim, penso na quantidade de coisas que preenchem a minha vida e que um vazio aqui e outro ali não é o fim do mundo, prefiro pensar no que restou.

Beijos!

Patrícia Félix disse...

Elisa, agora fiquei na dúvida, as pessoa sem geral respondem os comentários no seu próprio blog ou no do remetente??

´-)

Gladson disse...

Oi Patrícia, acho que você tem razão quando diz pra eu ter paciência.

Mudando de assunto...
Uma coisa que temos em comum: sou saudosista e as vezes gosto de me entregar aos meus pensamentos!

Mudando de assunto outra vez...
Vamos combinar uma maneira de responder os comentários porque eu também tenho essa dúvida! hehehe...
Beijos!!!

Elisa65 disse...

Eita, agora vcs me pegaram! Acho melhor a gente responder no de quem comenta. Eu enrolei a coisa, respondendo um post teu aqui no teu blog. É o costume :)

Tu sabia que o Gladson é músico? Ele toca em umas 3 bandas... Podia tocar na nossa!

:***

Patrícia Félix disse...

Olha a nossa banda se formando ae...
Elisa, eu só estou precisando encontrar um lugar pra mim nessa banda pq o Galdson vai tocar, tu vai compor as músicas mais legais que surgiram nos últimos tempos...e eu?!
Posso bater palma, fazer panfletagem ou ainda bater numas panelas...
:p Que tosco! hehehe

Ah, por acaso Gladson,tu toca na banda Sem Radar? Tenho um amigo no orkut q é dessa banda..Jorge.

Vamos respondendo do jeito que der...

Beijos!

Elisa65 disse...

Eu num lembro os nomes das bandas pq tem uma ruma. O Gladson é muito requisitado. Ele toca baixo... Ele tocava guitarra no começo, mas aí o pessoal ficava gritando 'Toca baixo!!!' kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Gladson, foi tu que falou isso!

:***