sábado, março 13, 2010

Hopeless

Nós precisamos de lógica pra sentir segurança. Queremos entender como tudo funciona pra prever o próximo acontecimento e usá-lo ao nosso favor. Devem existir centenas de estudos que explicam o porquê dos acontecimentos através de uma determinada lógica, seja ela evolucionista ou espiritual, por exemplo, e costumamos escolher uma dessas lógicas para nos referenciar durante a vida. Em geral, eu transito entre os conceitos. Procuro seguir uma lógica racional e perfeitamente explicável, mas logo alguma coisa me fazer correr para a espiritualidade e pensar que “só Deus sabe”. Como o equilíbrio é parente direto do bom senso, tento não ser radical, fato que me tira em muitos momentos a convicção do certo e do errado.

Nessa segunda-feira uma pessoa conhecida sofreu uma tentativa de assalto e ao escapar dos bandidos foi baleada, falecendo no dia seguinte. Ela saiu de uma igreja junto com a mãe, encontrou umas amigas e tomava o caminho de casa quando foi surpreendida por alguns jovens e até meninos munidos de revólver e sem nenhum tipo de noção do que significa a vida de alguém. Lamentavelmente, não é a primeira vez que eu comento esse tipo de violência com alguém próximo por aqui.

Até pouco tempo eu tinha um discurso socialista ou humanista, sei lá. Nunca quis me deixar invadir pela discriminação àqueles que vivem em comunidades pobres. Sempre quis me culpar um pouco pelo que acontece aos meninos e meninas que consomem drogas para esquecer sua vida tão dura. Mas acho que esse sentimento, ou tentativa de mantê-lo, acabou. Às vezes penso, talvez ingenuamente, que posso ser protegida por Deus pelo fato de vê-los como sujeitos vítimas da desigualdade social e achar que temos que amá-los acima de tudo.

Sinceramente? Eu não consigo mais achar que o que os move é a falta de comida em casa, ou uma maneira de descontar os abusos sofridos pelos próprios pais. Passo a pensar que existe maldade nisso tudo, que há um “de propósito” nesse modo cruel de brincar com a vida dos outros. A morte e a vida estão tão próximas assim? Sim, elas estão e a gente precisa aprender a conviver com isso. Não dá pra saber se na próxima esquina vamos encontrá-la, como aconteceu com a Marcela Montenegro.